2020 ficará na memória como o ano da pandemia, todos vamos lembrar – passado tudo isso – de como foi fazer aniversário na pandemia, fazer mercado na pandemia, cortar o cabelo na pandemia e especialmente, ainda mais no caso dos analistas, atender na pandemia.
A minha elaboração nesse processo inédito na história da humanidade, afinal na gripe espanhola o zoom e o google meet ainda não estavam disponíveis, caminha junto com a de uma terapeuta e escritora, Lori Gottlieb, que mais do que mergulhar nos meandros técnicos dos atendimentos virtuais, escreveu dois textos que fazem um recorte que compartilho nessa minha breve experiência como analista on-line.
Ambos os textos estão em inglês, mas o recurso de tradução automática do google chrome cumpre sua função e já permite a compreensão. Tanto o primeiro, quanto o segundo, tratam da intimidade de uma sessão de análise com paciente e analista em suas próprias casas. O espaço seguro, controlado e que beira a assepsia do consultório não está mais presente, por mais orientações que possamos dar ao paciente, a contingência irá aparecer. Entretanto, a mesma contingência impossível de aparecer no consultório é aquela que pode proporcionar reflexões e aberturas para o sujeito, que se não estivessem em suas próprias casas, não entrariam em contato com aquele conteúdo por aquela via.
Como é perceber as lembranças que cozinhar o almoço remete agora que não se está mais refém do quilo perto do trabalho? Como é encarar o próprio quarto enquanto se trabalha e se analise, olhando para paredes e móveis com os quais você nunca se identificou ao longo da vida? O que apareceria na terapia se eu fizesse deitada na minha própria cama tomando o meu chá preferido?
Questões que estão aparecendo somente porque esse estado das coisas se instaurou.
As sessões não se tornam melhores por esse motivo, assim que possível quero voltar aos atendimentos presenciais, mas sustentar esse espaço de cuidado em saúde mental é não só possível, como muito prolífico, mesmo em tempos de pandemia.