Em 2003, Colin Powell, então Secretário de Estado dos EUA, foi fazer um discurso na ONU defendendo o ataque americano ao Iraque. No entanto, foi pedido à ONU que se retirasse a reprodução do Guernica de Picasso que ficaria como pano de fundo do discurso (sobrando-nos o símbolo do Conselho de Segurança da ONU).
Em 2014, foi publicado um livro com o título: “Mascarados: a verdadeira história dos adeptos da tática Blac Bloc”, a divulgação do livro seria feito em alguns vagões do Metrô de São Paulo. Contudo, o material de veiculação foi recusado e não poderá aparecer nos vagões (sobrando-nos o horóscopo e as vídeo-cassetadas).
11 anos se passaram, mas as situações são muito semelhantes. Quem escreve muito bem sobre o episódio de 2003 é Slavoj Zizek. Ele afirma pertinentemente: “Não menos que o ato supérfluo de mencionar, o ato de não mencionar […] pode criar significado adicional.”
E foi exatamente o que aconteceu.
Se choveram artigos sobre o acontecido de 2003, como esse, esse, esse e um ótimo aqui. Em 2014, após poucos dias do fato já vimos manifestações de várias partes, como essa, essa e uma muito boa aqui também.
Enfim, para engrossar o caldo da questão, devemos refletir sobre o que Zizek nos escreve: “a transformação subjetiva ocorre no momento da declaração, não no momento do ato. Esse momento reflexivo de declaração significa que toda declaração não só transmite algum conteúdo, mas, simultaneamente, transmite o modo como o sujeito se relaciona com esse conteúdo.”
Já tivemos pistas em 2003 de qual postura os EUA tinham com relação à guerra, defendendo-a ao mesmo tempo em que velando-a. E em 2014 temos pistas sobre como o Metrô paulistano – ouso dizer, o Estado Paulista – lida com o debate sobre temas tão contemporâneos: censurando-os.
Talvez o tiro tenha saído pela culatra.