Irei fazer um comentário sobre as eleições, correndo o risco de perder umas 4 amizades, não ser chamado para umas 2 festas de família e deixar de ser seguido por cerca de 8 contatos no facebook. Mas vamos lá, mesmo assim.
Li essa reportagem aqui uns 2 anos atrás: “A Sportscenter-ização do jornalismo político”, e desde então venho citando em conversas de bar. Entretanto, com a atual conjuntura nacional de comoção eleitoral, achei que fosse preciso tecer alguns comentários sobre esse artigo.
Vi o vídeo da Folha: “Em dia de debate, sutileza zero nas ruas de SP”, e ao terminar parecia mais que eu havia visto uma reportagem da ESPN, sobre dois grupos de torcedores que se juntaram cada um em um reduto, para torcer por algo.
Tem de tudo no vídeo: discursos dos mais calmos aos mais inflamados, palavras de ordem, reações coletivas às respostas dos candidatos…
E é disso que a Sportscenter-ização se trata: a roupagem do entretenimento, o “E” da ESPN (Entertainment and Sports Programming Network). Não tem E no vídeo da folha, nem em nenhuma outra página de jornalismo político. Mas, a meu ver, é nisso que o jornalismo político se transformou: entretenimento.
O discurso inflamado ganha a mesma roupagem do torcedor que esbraveja: Meu time é melhor do que o seu. As palavras de ordem ficam parecendo um ‘po-ro-po-pó’ de um estádio de futebol. As respostas do candidato são o análogo do grito de Gol.
Não, pessoal. Política não é isso.
Como bem escreve o autor do artigo, “o pensamento binário é bom para o reino dos esportes […]: conflito definido, resoluções diretas, heróis (o seu time) e vilões (o outro time), com juízes e replay quando necessário. […] Política, por outro lado, tem nuances, o interesse de vários grupos com pedidos igualmente legítimos deve ser levado em conta, vitórias contundentes e claras são raras”.
PT x PSDB não é FLA x FLU. E o mais incrível é que tudo é noticiado como se fosse: O momento pré-debate do candidato é a concentração do jogador no túnel para a entrada do campo, o dia-a-dia dos candidatos beira a revista de fofocas acompanhando o seu atleta favorito, um candidato passar mal é como se o principal jogador do time saísse lesionado do jogo. Os exemplos poderiam continuar.
Seria mais honesto chamar o Galvão Bueno para moderador de debates, colocar o Casagrande e o Falcão nos estúdios da GloboNews e o Abel Neto entrevistando os candidatos nos intervalos. Mas aí não pode, só enquanto véu invisível essa relação se sustenta.
Estamos comprando o discurso do entretenimento. Entretanto, as implicações de uma escolha política são muito diferentes das implicações de uma aposta no jóquei.
Pode isso, Arnaldo?
Eis a Sociedade do Espetáculo…