É ano de eleição presidencial, mas já existem textos suficientes discutindo quem será @ noss@ nov@ presidente, o que me intriga é outra coisa: a descrença na política.
Freud, em um texto chamado “Análise terminável e interminável” de 1937, escreve:
“Quase parece como se a análise fosse a terceira daquelas profissões ‘impossíveis’ quanto às quais de antemão se pode estar seguro de chegar a resultados insatisfatórios. As outras duas, conhecidas há muito mais tempo, são a educação e o governo.”
Já escutei muito na minha vida, de diferentes maneiras:
“Análise? Para quê? Isso é coisa de desocupado…”
“A educação nesse país não tem jeito…”
“Nem adianta discutir política ou votar, vai ficar tudo na mesma…”
Quem quiser ler um bom artigo relacionando as duas primeiras, eu recomendo esse aqui, da Mireille Cifali.
Sobre a terceira, encontrei essa notícia que diz respeito aos Estados Unidos, que engrossa o caldo para pensarmos sobre o assunto.
De maneira geral, recentemente foi publicada uma pesquisa que estabelecia uma relação direta entre participar de um júri popular (especialmente em casos criminais) e ir às urnas (nos EUA o voto não é obrigatório).
Ou seja, ao participarmos de um processo no qual somos sujeitos ativos no resultado final, o engajamento político dos cidadãos aumentou!
Na minha formação, sempre acreditei que fazer parte dos processos, ter a possibilidade de mexer nas engrenagens daquilo que se está engendrando era importante: lutar por uma participação dos estudantes no Conselho de Psicologia da Universidade, representar os discentes no Conselho do Campus, participar da gestão do Centro Acadêmico…
E tudo fez ainda mais sentido quando entrei no ‘Mundo do Trabalho’ e percebi que no CAPS também aconteciam assembleias, um espaço deliberativo onde todos ali poderiam exercer sua cidadania. Ali, participavam técnicos do serviço, usuários da saúde mental e familiares, os quais decidiam coletivamente e ativamente os rumos que o funcionamento do serviço deveria ter: propondo atividades, organizando horários, formando grupos de trabalho para discutir assuntos específicos, etc…
E vejam só, na fundação dos Estados Unidos da América, o voto e a participação em júris eram justamente os dois mais importantes pilares da… Cidadania!
Uma das possíveis saídas para a descrença na política pode ser justamente essa: participar dos processos de decisão populares. O voto no Brasil já é obrigatório, o que garante um pouquinho de participação a cada 2 anos, mas decisões que determinam o nosso dia a dia nas cidades são tomadas diariamente – dos conselhos municipais às reuniões de condomínio.
Não posso afirmar que todas as assembleias no CAPS eram divertidas, nem que as reuniões do Conselho de Campus da minha Universidade eram a maneira mais gostosa de aproveitar o meu tempo, muito menos que as reuniões de condomínio do meu prédio são sucintas e organizadas.
Entretanto, são todos espaços – assim como o Júri Popular nos E.U.A – de engajamento político, que exercitam a nossa cidadania e, essa é minha aposta, podem transformar a descrença total na política em a descrença no resultado 100% satisfatório na política.
Lidar com o impossível, com os resultados insatisfatórios, com o sucesso sempre parcial, é difícil e desanima. Mas como Cifali escreve no artigo que citei acima: ”temos a necessidade de construir um saber do vivo e do singular que conta com a incerteza, o acaso e a complexidade.”.
Sem esquecer dos movimentos de base que não estão atrelados a instituições ou plataforma politicas, mas também fazem parte do processo politico e como transformadores e movimentadores da tal “engrenagem”.