Ir até uma loja e encontrar aquela calça que você estava procurando, só que não tem seu tamanho. Quem nunca?
Assim que li essa reportagem, pensei sobre esse acontecimento e como ele seja talvez mais recorrente atualmente.
Em linhas gerais, uma loja nos EUA, J. Crew, acaba de criar um tamanho menor do que o XXS (Super Super Pequeno) para adultos, o “000”. Não basta ser pequeno, não basta ser super pequeno, muito menos super super pequeno, precisa ser “000” – a roupa que vem sem calorias.
O tamanho já está até no site oficial da loja, só clicar aqui: J. Crew
A reflexão que pretendo trazer é: agora que o tamanho 000 entrou no campo da linguagem, como nossos corpos reagirão? Como será nossa reação quando chegarmos a uma loja e o tamanho padrão do manequim na vitrine for 000?
‘000’ é claramente um tamanho que poucos adultos poderão utilizar. Mas mesmo assim, o desejo para atingi-lo agora passa a ser uma possibilidade e a fala poderá rumar para:
– Preciso emagrecer!
Nessa hora tomo emprestadas as palavras do Nasio:
“Mas por que nossas imagens corporais são falsas? Por que concluir que a imagem de nosso corpo é sempre distorcida? […] a imagem de um objeto percebido é falsa quando amo ou odeio esse objeto; e falsa ainda quando esse mesmo objeto é percebido igualmente com o olhar severo do pai que existe em mim, que julga e me julga.”
Quando o afeto está presente, não nos isentamos de uma interpretação. Olharemos no espelho e diremos se estamos bem ou mal com aquela roupa, olhamos para noss@ companheir@ e nos apaixonaremos cada dia mais por sua beleza, já quando um amigo nos apresenta sua companheira, não a achamos tão bela quanto ele acha. Isso é o sentimento, o amor, o ódio, tornando falsa uma imagem. Ainda, existem os outros que carrego em mim – o chefe, a família, as pessoas na rua, etc. Se eu não entro na roupa 000, o que todos esses outros irão pensar? No fim, corporificamos também a sensação do pensamento dos outros.
As armadilhas para que nossas interpretações sobre os objetos se recrudesçam cada dia mais estão sendo postas. Assim como o olhar do Outro é ainda mais excitado e o julgamento ainda mais enrijecido.
Caberá a nós sabermos o que fazer com esse novo tamanho que surgiu e procurar saídas mais saudáveis do que o recrudescimento e o enrijecimento das relações que estabelecemos com o nosso corpo e com as pessoas.