Estou fazendo um curso de cinema no CAV – Centro Audiovisual de São Bernardo do Campo e, por conta disso, tenho lido textos e visto produções que antes não entraria em contato tão facilmente. Meus escritos aqui não vão ficar de fora dessa experiência.
Destaco então o trecho de um texto base para a aula de roteiro, de Robert McKee, que me chamou muita atenção:
“Para a maioria dos escritores, a sabedoria que eles ganham da leitura e do estuda iguala ou supera a experiência, especialmente se essa experiência não for estudada. Autoconhecimento é a chave – a vida mais uma reflexão nas nossas reações a vida.”
Em outras palavras, um convite à psicanálise (para os escritores e não escritores, roteiristas e não roteiristas). Explico.
Não nos basta a experiência de vida, nem o acúmulo de fatos que acontecem ao nosso redor, isso só nos traz dados objetivos do que o mundo nos proporcionar. Tão importante quanto o acúmulo de experiência, é a reflexão sobre esses fatos.
E é aí que entra a psicanálise.
É no divã que encontramos um potente dispositivo que nos faz refletir sobre nossas vidas, a psicanálise é uma ferramenta que contribui para que todo esse acúmulo de fatos, de experiência, ganhe novos contornos pela reflexão.
No entanto, discordo de McKee quando ele fala que a chave é o autoconhecimento. Afinal, como aponta Assali:
“A psicanálise lacaniana nos ensina que o saber é sempre inacabado, muito diferente do que é para a pedagogia, medicina e psicologia. O conhecimento pode tentar causar o efeito de completude, mas também se desvenda que é sempre parcial. A grande contribuição de Freud e de Lacan é poder peregrinar pelo saber sem ter que dar conta de tudo, sem ter que ser concluído.”
Quando estamos em análise, acabamos desconstruindo muito do que fizemos em nossas vidas, acabamos não tendo mais respostas prontas para o que o mundo nos oferece. Perguntamo-nos sempre os motivos que nos levaram a fazer a ou b. Mais perguntas do que respostas. Mais possibilidades e horizontes do que protocolos de existência.
Mais desconhecimento do que completude.
Assim, a chave estaria justamente no outro oposto, no auto-desconhecimento.
Desconhecer-se para escrever uma boa estória, ou reescrever a própria vida.